segunda-feira, 10 de março de 2014

Morfina

A multidão do metrô da Sé poderia me esmagar em quinze minutos às seis da tarde e alguém arrancar meu braço sem intenção de fazê-lo no jantar ou cada uma dessas tempestades lavar os vincos imundos de mim até não sobrar nada além de vazio e o seu vinil d'Os Mutantes me transportar para uma trip sem volta restando um corpo caído ou essas flores encarapinhadas no concreto me mastigarem lentamente enquanto eu me banho num fél de pólen ou meus olhos desaparecerem depois dum sonho na barreira do universo e o ônibus não frear jogando o para-choque na lateral da minha cabeça e todo mundo convulsionar numa overdose de lucidez ou ganhar um pacote de antimatéria e explodir sorrindo através das pontes e do céu desabando ou meu nome não servir de alicerce para a minha existência e cinco mil anjos me carregarem ou dois demônios me amaldiçoarem num lugar chamado Earth's Noise enquanto meia dúzia de híbridos lobos-corujas roubam alguns dos meus órgãos ou a solidão comprimir minha mandíbula e garganta e de repente o isqueiro colocar fogo num tanque de etanol debaixo da cama deixando tudo que eu fui em pó de tais formas e ainda assim restaria DNA o suficiente para implorar em um silêncio pedante por você.



Yasmin

Um comentário:

  1. Eu fiquei sem ar ao ler o seu texto, e algo me diz que a culpa não foi da ausência de vírgulas.

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