sábado, 22 de março de 2014

PARA O GAROTO COM O TIGRE

Eu vejo o rombo da sua ausência. É maior que o gosto de tudo que me falta porque sobraram tão poucos rastros. Um disco e uma perda imensurável daquilo que jamais tocarei. Dimensões inferiores perante a magnitude do que você foi e poderia ter sido. Sinto medo como nunca.
Se eu sair para te procurar, se eu te encontrar, se a sua dor for maior que a minha, se agora você sorrir, eu quero te pedir desculpa pelo mundo. É para você que eu me desculpo das incongruências, do existencialismo barato, da lucidez que nunca descansa. Me desculpa. Não foi só o seu corpo morto no banheiro que carregou consigo minha esperança nua. As teses insolentes, cada projeto não escrito, a sensibilidade e os tecidos multicelulares exaustos do seu cérebro vagueiam sem me responder nada.
É claro que eu quero te dar um beijo de boa noite, mas não posso levantar e encarar seus olhos me observando no escuro. Sinto medo como nunca. Sua causa reverberou oito anos até encostar a ponta da asa em mim. Oito anos esperando você que já se foi. Eu faria qualquer coisa para te salvar. Eles fariam qualquer coisa para te salvar. As melhores cabeças sempre famélicas pelo que não há. É de uma tristeza profunda, como se as garras fincassem na parede. Talvez você nunca saia. Estou contigo nos rasantes pela baía da agonia e te pergunto em qual porta está a saída. Você contrai a testa, não há porta. Se eu sair para te procurar, me desculpa. Sinto medo como nunca.

Yasmin D

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