sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

holocausto

As quinas, os cheiros, as vozes e as coisas não ditas moram onde nenhum livro e nenhuma cifra (ou cifrão) pode detalhar. A dor é uma propriedade publicamente singular, ou singularmente publica - de todo mundo mas só minha. Incomoda o vazio de desconhecer os porquês da vida e incomoda perder. Talvez os estudos e as teses e a fé e os cabos dos laboratórios científicos que procuram incessantemente respostas para cada lacuna um dia percebam que viver é, principalmente, perder. Saramago deixou: tudo o que começa nasce do que acabou.

Eu sei, algumas barreiras para quebrar e alguns limites para respeitar. Há uma ponte na parte remota e envergonhada do meu peito que me arrependo de ter cruzado. O gosto de querer deixar para trás si mesmo por não conseguir parar de pensar e ir fundo e fundo e cada vez mais fundo em acusações particulares e lembranças ruins permanece em conserva no canto da boca, como um bilhete.

Vinte e quatro meses atrás escrevi o que escrevo agora: medo. O medo é Zeus e Hades, que drenar suas asas e deforma o cérebro. Barreira e limite, âncora e vela. Andar e continuar perdido. Me diz o preço do oásis porque meu grito é pouco mas é tudo que tenho. Quiçá eu possa descansar no ácido da sua língua e te ligar pedindo por paz e paz, paz, paz, só paz. Te escrever uma carta definitiva - com inúmeras alternativas - e rir do nascer do sol, amar a rua da sua casa. Quiçá eu coloque fogo no rascunho do que seremos, ou num pneu em frente a Prefeitura. A revolução parte simultaneamente de pontos remotos e um deles deve ser nós dois.

Cruzar as pernas e acender um cigarro é a melhor idiossincrasia que se compra no mercado. Eu vi, daqui dois mil anos a tristeza ainda fará parte dos livros de História e esse elefante acinzentado posto no meio da sala continuará me atrapalhando a assistir TV.

Nenhum comentário:

Postar um comentário