terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Faixa 4, Ventura.

Uns livros chatos de filosofia política e a sua filmografia do Woody Allen.


Como um rio fluído que não se importa em qual direção desagua eu e os meus treze anos com as minhas mãos delicadas e uma perspectiva prematura fomos embalsamados por tudo que você era: uma tripulação inteira. Eu amei cada polo seu que consegui encontrar. Amei os que desvendei e os que jamais entendi. Éramos a parcela inicial do escarcéu que inventa a vida. Amarguradamente felizes, dois corpos despidos de demônios reinventaram uma órbita que desalinhou.

Há um compartimento na minha mente que te mantém no centro de saudades atemporais. Eu gostaria de retirar você de lá. Não é justo que tenhamos nos tornado somente pretérito. Todo passo errado e toda despedida mal calculada ocasionou em um adeus nunca dito. Poderíamos acusar Vênus, ou aquele cara que subiu no palco durante a última música. Deveríamos culpar seus óculos quadrados ou a noite em que te pedi para voltar do meio da multidão. Mas fomos nós, somente nós, nosso choro impiedoso e outras centenas de gritos. De alguma forma, compactamos e desunimos tudo.

Tudo bem, é um círculo, ninguém se esquiva dele. Construir e destruir.

Se eu pudesse, rebobinaria a fita para descansar uma última vez sob o seu olhar castanho e cético, mas não desataria o nó. Temos a necessidade de ir embora, completar o ciclo.

Não me sinto completa.

Lamento pelas vezes que fodi seu cérebro, ainda faço o mesmo com o meu. Não se perca como as minhas memórias arcaicas, não mate a sua tripulação. Te carrego para lembrar quem fui e aceitar quem me tornei. Você certamente sempre será a minha mais bonita aquisição.

Essa é uma carta sobre tudo que eu te roubei, Enri. O primeiro amor é um marginal.

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