Uns
livros chatos de filosofia política e a sua filmografia do Woody
Allen.
Como
um rio fluído que não se importa em qual direção desagua eu e os
meus treze anos com as minhas mãos delicadas e uma perspectiva
prematura fomos embalsamados por tudo que você era: uma tripulação
inteira. Eu amei cada polo seu que consegui encontrar. Amei os que
desvendei e os que jamais entendi. Éramos a parcela inicial do
escarcéu que inventa a vida. Amarguradamente felizes, dois corpos
despidos de demônios reinventaram uma órbita que desalinhou.
Há
um compartimento na minha mente que te mantém no centro de saudades
atemporais. Eu gostaria de retirar você de lá. Não é justo que
tenhamos nos tornado somente pretérito. Todo passo errado e toda
despedida mal calculada ocasionou em um adeus nunca dito. Poderíamos
acusar Vênus, ou aquele cara que subiu no palco durante a última
música. Deveríamos culpar seus óculos quadrados ou a noite em que
te pedi para voltar do meio da multidão. Mas fomos nós, somente
nós, nosso choro impiedoso e outras centenas de gritos. De alguma
forma, compactamos e desunimos tudo.
Tudo
bem, é um círculo, ninguém se esquiva dele. Construir e destruir.
Se
eu pudesse, rebobinaria a fita para descansar uma última vez sob o
seu olhar castanho e cético, mas não desataria o nó. Temos a
necessidade de ir embora, completar o ciclo.
Não
me sinto completa.
Lamento
pelas vezes que fodi seu cérebro, ainda faço o mesmo com o meu. Não
se perca como as minhas memórias arcaicas, não mate a sua
tripulação. Te carrego para lembrar quem fui e aceitar quem me
tornei. Você certamente sempre será a minha mais bonita aquisição.
Essa
é uma carta sobre tudo que eu te roubei, Enri. O primeiro amor é um
marginal.
porra
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