sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

tomb 875, green hills memorial park, CA

meu pai me olha todos os dias se perguntando
quem sou eu
mas nunca encontra resposta.
talvez ele acredite que a sua filha não é ninguém
ainda.
esse é o único momento
em que nós dois estamos
perfeitamente
de acordo.

quando as pilastras ruem,
na maioria das vezes, não sinto vontade alguma de reconstrui-las.
o silêncio da desistência de
si mesma quase engole os livros da prateleira,
quase coloca fogo nos folhetos de algumas bandas
desconhecidas.
já desisti de tudo que apreciava e na manhã seguinte esperei tocar hey little rich girl
enquanto tomava um comprimido e abria as janelas pra
odiar um pouco mais
a falta da chuva.
você tem que se convencer de que realmente desistiu
e essa é a parte que sempre ficou em branco.

pode ser
que um dia eu conte pra alguém que escrevi meu melhor texto drogada
e esse alguém ria, ou me beije a boca
ou escreva sobre isso como escrevo o que me dizem,
o que fazem comigo.
sartre vai se orgulhar se todo mundo se adaptar
à essa merda,
mas a indústria cultural não.
nem toda mente e nem toda mão serve pra criar. a história de que cada um é capaz
só funciona nos corredores dos colégios
e de pequenas empresas.

conheci pessoas que dariam a vida ou metade dela
pelo amor,
e elas davam.
essa fé inescrupulosa no sentir é constantemente
esmagada
por atos meramente racionais.
reconhecer as possibilidades do amor não significa,
necessariamente,
deixar de acreditar nele.
de qualquer forma, o avião cai.
o copiloto possui a restrita função de dividir o sentimento de fracasso e
de segurar a sua mão.
o copiloto é somente mais um peso pra despencar.
e todos nós, no fundo, desejamos um.

bukowski nos deixou um inefável conselho
escrito alguns palmos acima dos vermes que comeriam seu corpo.
tentar é o caminho mais fácil
pra navalha entrar.
você só precisa ouvi-lo.

yasmin

5 comentários:

  1. "pode ser
    que um dia eu conte pra alguém que escrevi meu melhor texto drogada
    e esse alguém ria, ou me beije a boca" ou faça ambos.

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  2. Caralho, Yash! Ca-ra-lho!

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  3. Você é a ponta do sapato sujo que a gente não limpa, só pra mostrar onde se foi. Belo aterro. Enterro, Yasmin.

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