quinta-feira, 19 de setembro de 2013

but i have some glue,help me inhale

se existe uma alma aqui dentro, ela está alojada, como uma bala. numa perna, talvez, ou dentre as costelas, ou, quem sabe, na palma da mão.
presa.
o que não faz lá muita diferença já que eu não a sinto. sinto os mecanismos do meu cerébro aumentando dia após dia o grau do breu e, vez ou outra, o coração paralisar alguns ligamentos. alma não. é bobagem. só outra criação infeliz com o intuito de humanizar o ser humano. se sempre fomos exatamente como estamos, acentuar a humanidade dentro de cada homem e de cada mulher não levaria à nada senão para um ciclo vicioso de guerras financeiras e artistas drogados. o contrato social foi rasgado. "'humanizar' é o verbo da tragédia", penso enquanto tomo
2 ou
3
comprimidos e me pergunto se essa merda pode me matar. qualquer coisa pode me matar. minhas células cancerígenas, um pedaço de pau ou uma injeção de oxigênio. o corpo humano é tão frágil quanto uma nave no espaço em direção ao sol. é esse, afinal, um dos perigos do amor. senti-lo por um corpo igualmente frágil ao seu - que, certamente, morrerá em 3 minutos esperando por uma ambulância no meio da avenida principal - é um pulo no abismo. amar é sempre essa medíocre queda e estamos todos caindo. caindo,
caindo, caindo e caindo.

penso no espaço oco entre meu esôfago e pulmão que deveria abrigar um espírito e os 2 ou 3 comprimidos que agora fazem efeito repetem
bullshit,
bullshit.
ouço o som de ossos quebrados. alguém chegou ao fim da queda. espero que tenha sido
eu.

yasmin

3 comentários:

  1. Porra, Yasmin.
    Depois desse texto tu merece um beijo.
    J.

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  2. Espero que não tenha sido você a cair e quebrar os ossos. O mundo precisa de você inteira pra escrever coisas assim.

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  3. Gostei quando vc disse que acentuar a humanidade não vai ajudar em nada. Muito bom esse texto.

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