terça-feira, 23 de junho de 2015

autofagia

a boca faminta devorando o peito
o peito devorando as quinquilharias
as bugigangas
a extensa parafernália
de si
o que é meu eu roubei
da sola do seu pé
da sujeira debaixo da unha
da língua em carne viva
cada pino sustentando a mente foi roubado pelos olhos
os olhos são parte do cérebro,
por isso te olhei tão demoradamente aquela noite
para absorver
a b s o r v e r
e depois de absorvido, impregnado, contido
eu me devoro 
refeição por refeição tece-se o quase-só
quase-nada
ponho a mim na mesa, 32.000 dentes nutrindo-se do que sou
e não choramos,
nenhum dos mil de nós
quando o único alimento é a própria mão, o próprio punho
o choro salga
a lágrima, a pequena e imperceptível lágrima
que nunca cai
me mantém
de pé

7 comentários:

  1. que saudade... nunca mais fui a mesma desde que perdi seu livro :-(

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    1. das últimas vezes que tentei não deu... me manda o link de novo por favor?

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    2. http://www.mediafire.com/download/wr2b5btb574u8m2/AUTOFAGIA.pdf

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    3. meu deus!!!! muito obrigada!!!!!!

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  2. a lágrima, a pequena e imperceptível lágrima, que nunca cai, me mantém de pé

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