dia desses andando pela paranaíba encontrei uma ruazinha onde a gente
sentou uma vez e eu mal te conhecia mas já te amava doidamente eu só
sabia seu nome seu telefone e todas as coisas que você fazia em todas as
horas de todos os dias e era por isso que doía essa doidice.
porque eu sabia tudo mas não sabia nada.
aí eu encontrei essa rua que não tem nome e o lugar onde a gente sentou hoje virou outra coisa.
na
verdade quando a gente sentou naquele lugar no chão daquele lugar não
tinha nada lá porque era o último dia do ano e não tinha nada em lugar
nenhum era só a gente uma garrafa de vinho muito barata e meu medo eu
sei lá eu tinha medo demais eu tinha medo que você me amasse de volta
porque eu não via espaço pro amor de outra pessoa em mim mas você não me
amou de volta é claro era o último dia do ano e ia dar umas seis horas
da tarde já era quase o primeiro dia do ano e você não ia reservar logo
esses dois dias ímpares para me amar seja lá de qual forma fosse.
e
lá no lugar onde a gente sentou agora tem outra coisa que eu não sei o
que é acho que é uma distribuidora ou um ponto de droga deve ser os dois
mas eu não sei o que é e no momento que eu tava passando nessa rua eu
desacelerei o passo e pensei que quando a gente sentou lá naquele lugar
eu te amava num desespero tão grande e hoje virou outra coisa que eu não
sei o que é apesar de que durante esse tempo todo nesses dois três anos
eu fiz uso de toda e cada palavra aportuguesada que conheço para tentar
me explicar e eu continuo sem saber.
em palpite, acho
que o que tem agora no lugar daquela outra coisa que tinha antes é um
amor daqueles que de tão velho tão sábio tão leve e sólido vira uma
segunda pele
ou deve ser outra boca de fumo.
eu leio seus textos e, às vezes, imagino que estou sentada na beira da praia só escutando o ir e vir das ondas que não se cansam que não reclamam, nem se pudessem, da rotina diária de jamais chegar exatamente a um lugar e só bebericar e roubar parte dele como se fosse dono, mas como se fosse também ladrão. outras horas, é como se eu fosse aquele bloco de pedras que não deixa avançar a corrente, que aguenta a violência do fluxo e tem ciência das limitações e dos excessos de tudo. quando você escreve e eu te leio, o câncer da minha avó nem me dói. eu faria uma festa pra ele e sua metástase. e te chamaria.
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ResponderExcluirtranso demais tua escrita porque me traz a sensação de tapa na cara que a gente recebe de um desconhecido na rua sem saber porquê diabos.
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