terça-feira, 26 de agosto de 2014

BOGARIM

na vastidão de terras mortas, entrevi alguém
são, corpulento, de pé, revestido em um manto
triste.

era a primeira manifestação de vida
em anos
em mim.

você foi
a planta carnívora que transformou meu eu bucólico
num frenesi.
permanecem vivas, mediante isto - esse susto, esse rebu de ti -
a setecentos dias
minhas mãos prolíxas,
uma vez que escrever é o único caminho nobre
que sei trilhar.
não haveria forma mais digna de dizer
sobre as flores franzinas que se curvaram para que você crescesse
senão escrevendo,
jamais me passaria outra ideia tão congruente
a fim da libertação de dores inexpressivas
senão a de escreve-las.

houve uma noite
de solidão
em que o quarto se encheu de um flagelo infeliz
e a máquina de escrever riu
enquanto eu te sufocava numa caixa miúda
pela inclemência de amar sozinha
até que a sua impetuosa estada
virou um único
espinho.

talvez você nunca saiba que junto às suas pernas,
enroscado, agarrado, encarapinhado,
me veio também uma devoção calada,
inclusa,
sobre o que passaria a nos pertencer.
eu pude amar o abraço inepto,
a miséria do cenário,
as cartas niilistas,
e me atentei enraizada,
desde o que era ao que me tornara, 
por tal amor.

foi você
que entregou visão, tato e olfato a esse corpo inerte,
que desviou os ventos pacíficos,
que roubou os meus poemas ruins.

ao longo de todo este tempo, tudo que havia entre nós
eram poucas palavras de dor e um áspero silêncio
entalando no peito cada sonho pretendido,
mas, hoje,
hoje eu acordei,
lavei os pés,
pus o lixo
para fora
e vi
você florir.


yasmin d

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