sábado, 14 de setembro de 2013

quem mais apostaria em Plutão?

observar outro planeta a olho nu é um dos atos grandiosos e pouco estimados que nós temos a oportunidade de desprezar. um pontinho brilhante ao lado da Lua me diz mais do que toda a explicação cansativa sobre como a Terra é vulnerável. se, num relapso de insanidade, Saturno resolvesse abrir asas e reverberar infinitas vezes seu grito de guerra, seríamos engolidos com tamanha facilidade que não daria tempo de te ligar.
todas as teorias envolvendo um ou mais deuses, os bancos, as bibliotecárias, as câmeras profissionais que registraram inúmeros casamentos infelizes, o túmulo de Bukowski, as celas transbordando ódio, os reacionários, fascistas, o jornal de amanhã sendo produzido, as cores, os gritos, a Brigada Sul-Americana e todos os poemas que eu jamais te escreverei desapareceriam deixando apenas o alivío de nunca termos estado aqui.
certamente, seria belo.
não temos essa sorte.
as coisas e os caminhões de lixo e a folha em branco comendo seu cérebro esperando algumas palavras de compaixão permanecerão aqui, bem aqui, exatamente onde estamos, dividindo o mesmo ar odorífero. o fim não está próximo. o que se aproxima é a manhã seguinte, o dia seguinte, o ano seguinte, onde nada melhora. “it gets better” é só um macete para a baixa dos números que relatam suicídios anuais. não funciona. as pequenas causas tomam proporções gigantescas e todas as saídas - inseridas no consciente, ou sub - entopem. a culpa fica vaga.
ninguém sabe de onde surge o caos.
ele simplesmente surge.
estamos todos ilusoriamente no caminho certo: rumo ao hexa, à faturação mútua com o Pré-Sal, ao fim da terceira Guerra Mundial. o dia do juízo final - em que os anjos tocariam cornetas enquanto os malfeitores seriam decepados ao longo de um slide com 3 milhões de pixels contando sua história terrível de vida e os servos bondosos subiriam gloriosamente sob os pés de deus para um paraíso fiscal - é uma farsa. não há volta. o único meio de nos salvarmos é esperarmos.
em algum momento, o Universo se expandirá em demasia e, no ato simplório de abrir os braços para se espreguiçar de um sono milenar, a Terra,
juntamente comigo, contigo, com o nosso amor paralelo e o maço de cigarro que você leva amassado no bolso,
se tornará somente um pesadelo terrível
do qual só sobrará
o nada.

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