quinta-feira, 28 de março de 2013

Quintas e quartos.

Manuel,
tenho uma história.

Vou ao café todas as quintas, você sabe. Desde que parei de fumar, observo tudo. O movimento dos passos, as risadas, os sapatos e as pessoas. Me agrada. Ao ir embora, cada uma delas continua em mim.
Há semanas mantenho a atenção em um casal.

Eles são durões. O olhar é duro, os gestos são duros, a conversa é dura.
Suas vozes permanecem firmes, longe de serem flexíveis, moldadas.
Facilmente confundidos com negociantes.

O amor é um negócio, não é?
Porque eles se amam.
Por mais que pareçam inteiros e íntegros, são metade.
E, com a permissão da minha visão lírica, digo que são metades um do outro.

Penso bastante sobre isso, sem nem ao menos conhecê-los, sem saber nomes.
Provavelmente seja pecado escrever uma história que não é sua, mas eu nos vejo lá, no meio do ringue dos lutadores de mesma essência.

Há sempre uma luta na mesa em que os dois se encontram.
Hora por disputa de terras,
outrora por saudade.

Todas as vezes que os vejo chegar espero a aparição da batalha perdida. Perdida por ambos, ganha também.
Porém, o olhar continua reto, a voz alta e as mãos remotas.

A história acaba aí, mas eu tenho um palpite. Na verdade, nós temos um palpite.

Sabemos,
um dia cessa.
A guerra é finita.
Um dia a voz sussurra, o olhar descansa e os lobos se abraçam.
Um dia todo mundo é vencido pelo amor.

Eles serão.
Nós também.




(De quem te sabe,
Yas.)

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