quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

coexistir.

olá, sou eu,
você sabe. sempre reconhecerá minha chegada alguns metros antes do portão. seus olhos pequenos e destilados de reagentes químicos memorizaram até minha maneira de dobrar o papel. só mando cartas para você, os outros sempre as buscam. talvez eu goste do caminho para sua casa, talvez prefira que você não vá até a minha. e, tudo bem, eu sei que quando for a hora você irá entrar sem pedir permissão porque ela já foi dada, há algum tempo. mas, antes disso, antes do maldito momento em que você deverá aparecer com as mãos vazias e o coração carbonizado, não chega perto. tudo aqui rege desesperadamente mal e alguém me contou que deve ser assim, sem intervenção da alegria que sua risada me passa. provavelmente sua ausência é o salário de todas as lágrimas que fiz derramarem pela minha irresponsabilidade sentimental.
acredito nas palavras que me indaga. não me pergunte o porquê. acho que, na hora, elas são realmente verdadeiras. depois, após as transas e os intervalos comerciais, se esvaem. quantas vezes mentiu para mim? nunca quis ver ou ter seu lado bonito, tyler. o cheiro da sua consciência pesada e a mochila de pecados imperdoáveis que você carrega nos ombros sempre me chamaram bastante a atenção. curiosidade. meu amor é pura curiosidade. sabemos que quando nos descobrirmos, iremos embora. porém, isso é dor para outra trilha sonora.
um cara disse que o presente dura três segundos. a cada três segundos o presente se torna passado. levando isso em conta, penso em você desde outra vida. ou pensaria, se acreditasse nela. três segundos, tempo de piscar, bater as asas, ligar o motor, te gritar. sempre mantive afeto pelo passado e superestimei o futuro, nunca soube o que fazer com o presente. ele se faz, acredito.
foi absolutamente árduo daqui também. não te procurar é o meu troféu. acumulei pilhas deles, ganhei companhia para a solidão. quase consegui pedir colo à outrem. todos os dias a auto-consolação é a mesma. "só mais essa noite", minto. espero que você venha em alguma delas, antes que eu descubra minha própria mentira e entre em colapso com meu alter ego. sempre o protegi, aliás. tentei mantê-lo o mais intacto possível, sem resquicios de qualquer sentimento que o ser humano tenha criado, mas ele tem um pouco de você. posso te perguntar como conseguiu infiltrar as barreiras?
de qualquer forma, com ou sem respostas, somos nós. temos de ser nós até o fim e no meio de qualquer insanidade momentânea, nos encontraremos. te deixarei ver minha pupila se levar meus dedos até sua ferida. nosso amor nunca será mais do que uma troca. nossas frequências provém de ondas diferentes vindas do mesmo oceano. a fisiologia sabe em qual ponto somos os mesmos. nós também.

p.s.: "depois de um dia difícil, pensei ter visto você entrar pela minha janela e dizer: eu sou a tua morte, vim conversar contigo, vim te pedir abrigo, preciso do teu calor." os dias difíceis são conseguintes, há inúmeras opções de data. te espero.

(yasmin)

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