não perguntaram. quando engenhosamente embutiram vestígios analógicos da vida humana numa sonda espacial que agora, nesse minúsculo momento, orbita muito além de onde minha mão alcança.
não, nem sequer me viram. quando escolheram algumas músicas, poucas imagens (da natureza, dum prédio, duma arcada dentária) e um discurso miserável do presidente. que dizia: nós estamos aqui e queremos ser lembrados.
não me perguntaram. você gostaria
de ser lembrada?
que se lembrem de você.
da fétida carne que te cobre a carne.
e das catástrofes que as suas mãos desencadearam.
não perguntaram. e se tivessem, daria para ouvir
em coro de bilhões:
não se esqueçam de mim.
**Voyager 1, sonda lançada em 1977 contendo um disco - registrado em codificação analógica imagens, sons e um discurso do presidente da época - e um toca-disco que, hoje, já vagueia pelo espaço interestelar.
Maravilhoso
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