É você que me perturba nas noites destemperadas. Ainda é exatamente
você. As ramificações provenientes do seu inferno são fortes e trazem à
tona todo o meu fracasso de existir, mas só suas mãos me derrubam. É
intrigante que o mais velho dos amores em mim não conheça meu
redemoinho, afinal, você quem o criou. Algumas coisas - metade da
parafernalha - não existiam antes da sua vinda, e eu continuo batalhando
a fim de descobrir se isso foi lúdico ou poético. Às vezes dá verso, às
vezes dá eco.
Todos os declínios tristes e a idiossincrasia crua que existem em mim são extremamente inferiores à nossa causa perdida. O buraco que nasceu após meus ouvidos conhecerem sua risada se remói cada vez mais, silenciosamente. Nada me dói tanto quanto o que poderíamos ter sido. Cada vinco do passado que não aconteceu ricocheteia meus olhos repetidas vezes e eu passo a enxergar maior. Penso, baby, que meu futuro tempo ao seu lado depende das cores que consigo ver, e elas só surgem ao meu campo de visão através da imaculada e perfeita dor.
A vida é bem maior para quem reconhece seu próprio coração cedo demais. Nós descobrimos o amor quando a sobrecarga psíquica era pouca. Proveniente disso, envelhecemos. Ganhamos anos perdidos, nada repara tal erro. Nossa inerência é baseada no que não podemos consertar, no grito que abafamos e nas coisas impróprias de serem ditas que nos dissemos. Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.
Após anos suportando sol e chuva, minhas flores secaram. Você - em sua maquiavélica missão de obter graça e depois partir - me fez florescer novamente, e mesmo que tudo aqui dentro tenha adormecido outra vez, ainda me lembro da forma que quebrou minhas vidraças. Ainda me lembro.
Talvez seja esse e somente esse o motivo da minha monomania bonita:
jamais esquecer as mãos que me devolveram a vida, jamais esquecer você.
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