sexta-feira, 11 de outubro de 2013

escassez emergente

sigo carregando sentidos impregnados de coisas velhas, conservadas.
frustrações e falhas,
boas memórias e ocos.
existem inúmeros armários enferrujados inseridos no meu olfato,
ou tato,
que guardam recordações de cheiros, texturas, torturas.
me martirizo com o passado tanto e de forma tão profunda que
em algumas feridas, mesmo que já cicatrizadas, não mais nascem flores.
partes que permanecem mortas ad infinitum.
uma série de fatores fatais que percorrem e corroem os espaços ainda vivos.
é essa, acredito, a decomposição humana.
mantenho enclausurado, desbotado e forte como um touro, o núcleo principal
de válvula e prisão.

ainda imploro por uma rota de fuga.
o relógio gira na mesma lentidão e eu sou triturada juntamente com as horas que passam.
nada produz mais agonia do que esperar, esperar e esperar.
nada produz mais agonia do que esperar isto que não sei o que é.

quem me vê sempre franzida desacredita do ser temeroso entre a pele.
sinto vagões de medo.
a fragilidade reside, resiste. afinal, meu cérebro é um batalhão auto-defensivo e desgraçado,
mas meu coração sempre foi o rastro solitário
e singular
de um tiro.

2 comentários:

  1. Sempre tão surpreendente, yas. Toda vez que leio um texto seu é a mesma coisa que sentir fragrâncias diferentes. É impressionante porque eu me vejo na maioria deles. e a maioria é bem grande...
    Parabéns e obrigado por compartilhar.
    Nunca é uma perca de tempo ler coisas suas. Nunca.

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  2. o suicídio é a falta ou o excesso de coragem? jn

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